Perfumes e Musica

“Música é perfume.” Proferida pela cantora baiana Maria Bethânia, a sentença explicita o caráter sensorial embutido na arte e na memória musical. No jogo aparentemente ilógico da memória, a música também deixa aromas, sensações, impressões que um ser humano pode carregar por toda a vida a partir de uma canção.
Muitos estudos de áreas como Neurociência, Musicologia e Aromacologia apontam laços estreitos entre a musica e os aromas.
A crença de longa data de que certas fragrâncias estão associadas a certos tons de música pode ser rastreada até 150 anos atrás. O perfumista Piesse (1867) destaca esse vínculo entre aromas e música, afirmando que “existe, por assim dizer, uma oitava de cheiros como uma oitava na música”. Sophia Grojsman, uma perfumista bielorrussa, afirma que compor música é semelhante a produzir fragrâncias. Existe também uma semelhança entre termos profissionais usados por perfumistas, uma vez comparados àqueles geralmente usados pelos compositores musicais na criação de aromas e música.
As notas musicais, as notas olfativas…
Os arcordes das sinfonias, os acordes olfativos…
As fragrâncias são compostas por vários ingredientes, também chamados de notas, assim como na música. E enquanto cada ingrediente é uma nota, dois ou mais ingredientes formam os acordes. Curioso não é mesmo?
Mas não é qualquer combinação de ingredientes que resulta em acordes. Assim como na música, novamente, a perfumaria tem quatro tipos de acordes que vamos conhecer a seguir.
Fougére, palavra francesa que quer dizer “samambaia”, é um acorde que surgiu após o lançamento do Fougére Royale, da casa de perfumes Houbigant, em 1882. Marcou a história da perfumaria masculina mundial com sua fragrância fresca e confortável, resultado da combinação inédita de lavanda e cumarina, componente sintético extraído da semente de cumaru ‑ internacionalmente conhecida como fava tonka. Com o passar do tempo e a evolução da perfumaria, o acorde fougère clássico se modernizou trazendo mais ingredientes sintéticos à sua composição, como o famoso dihydromyrcenol, o Iso E Super e o Evernyl, que entram no lugar do vetiver e do musgo, deixando o fougère mais transparentes e fresco.

O acorde Chypre nasceu com François Coty, em 1917, no perfume “Le Chypre”. Sua inspiração foi a ilha de Chipre, banhada pelo Mar Mediterrâneo. Assim como o fougère, o acorde Chipre também pode ser dividido entre clássico e moderno. A versão clássica combina bergamota, rosa e jasmim, patchouli, musgo de carvalho e lábdano. Por conta de novas regulamentações relacionadas ao uso do musgo de carvalho, o acorde moderno substituiu esse componente natural por evernyl, um sintético. Ficou mais sutil, translúcido, com adição do floral sintético hedione e musk, mantendo a bergamota, a rosa e, claro, o patchouli.

Vinte anos depois, em 1925, Jacques Guerlain lançava Shalimar, perfume oriental que muitas mulheres ainda vestem no mundo todo. Shalimar nos apresentou o acorde Oriental. O acorde oriental possui vanilla, benjoim, fava tonka, lábdano, especiarias e patchouli. Ele é a interpretação olfativa dos perfumistas franceses da época sobre o exótico oriente.

O acorde Âmbar é composto por notas quentes e mais resinosas, combinando a vanilla, benjoim, fava tonka e lábdano, aquecendo e deixando um rastro marcante a qualquer fragrância. Pode ser considerado muito próximo ao acorde oriental, porém, sem a especiaria e o ptachouli, o que torna o acorde ambarado mais envolvente e aconchegante do que o Oriental.

Os experimentos realizados por Crisinel, Jacquier, Deroy e Spence (2013) tiveram resultados impressionantes. Suas descobertas mostraram que a associação olfativa-auditiva destacada por pesquisas anteriores agora podia ser projetada com mais detalhes do que nunca. Os tons mais altos, por exemplo, combinavam-se significativamente com os cheiros da laranja cristalizada e da flor da íris, em vez dos cheiros do almíscar e do café torrado. Também se revelou que a maioria dos participantes dos experimentos podia combinar o cheiro de laranja cristalizada à peça de música pretendida. O estudo sobre a associação entre o tipo de instrumento musical e o tipo de perfume revelou que o som dos instrumentos de piano e de sopro combina bem com os cheiros frutados, enquanto os cheiros como o almíscar são mais associados aos instrumentos de sopro. Além disso, suas descobertas mostraram que os sons mais agudos correspondem ao cheiro de fumaça, almíscar, chocolate preto e feno cortado, enquanto os sons agudos combinam melhor com os aromas de frutas (Crisinel & Spence, 2012).
Certos sons de fundo, como uma canção de Natal, podem ser combinados com aromas específicos, como canela, cravo e noz moscada (Seo, Lohse, Luckett & Hummel, 2014). Aromas frutados, por exemplo, como maçã e limão eram consistentemente combinados com sons agudos e, curiosamente, o foram associados ao som do piano.
O som da floresta, também foi associado a sentimentos refrescantes e, consequentemente, a aromas frios e suaves, “o som do vento na floresta induz um aroma fresco”. Ainda, outros elementos do ambiente natural foram associados a aromas cálidos. Este foi o caso do som de pássaros, que foi associado a aromas quentes.
Os cientistas comparam a percepção do cheiro com a melodia de uma música, com as notas representando os glomérulos que são ativados. Porém, sem o tempo correto, tanto uma música quanto uma experiência sensorial se desfaz, como explica o estudo. Mudar, por exemplo, a sétima nota de uma melodia pode ser imperceptível, mas trocar as duas primeiras pode resultar em uma música completamente diferente. Com o cheiro, a questão não envolve apenas quais glomérulos são ativados, como também a sequência temporal seguida por eles. Aí está a importancia de uma Piramide Olfativa bem estruturada e dotada de Harmonia Evolutiva.

“Notas que Ressoam: Assim como uma composição musical é dividida em notas de topo, médias e de base, os perfumes são construídos de maneira semelhante. As notas de topo são a introdução, as médias formam o coração da melodia, e as de base prolongam a ressonância, deixando uma impressão duradoura.
Gêneros Musicais e Familias Olfativas: Da mesma forma que diferentes gêneros musicais evocam diversas emoções e atmosferas, os perfumes também variam amplamente em suas expressões. Um perfume floral pode elevar o espírito como uma sinfonia clássica, enquanto uma fragrância amadeirada pode ter o conforto do acústico.
Playlists e Paletas Olfativas: Assim como criamos playlists para diferentes humores ou ocasiões, selecionamos perfumes que complementam nossos estados de espírito, momentos ou eventos especiais, orquestrando uma atmosfera através do olfato”. (Fonte: https://www.facebook.com/watch/?v=1101880687696165 https://www.facebook.com/RenataAshcarPerfumeSpecialist?__tn__=-UC)

Fontes:
https://www.scielo.br/j/rbgn/a/MN7Vc9KF47QyDw9zgvYJfHy/?lang=pt


https://paralelaescolaolfativa.com.br/artigos/o-que-sao-acordes-olfativos/


https://www.terra.com.br/byte/ciencia/pesquisa/cientistas-desvendam-relacao-entre-cheiros-sons-e-memoria,4ed8ecafcd5ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html?utm_source=clipboard


https://www.sescsp.org.br/editorial/os-aromas-da-memoria-musical/