Ambre Precieux, Maitre Parfumeur et Gantier

A amostra deste bonito veio em uma das fases da consultoria olfativa da Ego in Vitro.

No meu primeiro contato com o perfume, essas foram as primeiras impressões, escritas em março de 2014: ‘deliciosa explosão resinosa e ambarina! Leve toque medicinal, viscoso, denso, seiva doce de árvore rara! Toque ambarino, baunilha controlada e nada gourmand, noz moscada, canela, mirra ou opoponax, não sei ao certo, e mais algumas coisas que não sei identificar, mas certamente são resinas ou bálsamos. Tem ainda na abertura um nota fresca e herbal que não sei distinguir, mas é breve e delicada, em meio a tantos aromas ‘pesados’, intensos, de personalidade forte’.

E sim, continuo achando exatamente a mesma coisa! É dos dos perfumes ‘ambarinos’ (lembrando que o âmbar é uma nota criada geralmente a partir de ládano, baunilha e benjoim) mais deliciosos que já senti! Quando apliquei na pele tive a sensação de algo viscoso (não oleoso) e dourado.

Começa com um cheiro resinoso e doce misturado a um toque herbal. Não soube ao certo dizer se me deu a impressão de algo licoroso ou de algo medicinal. Ou as duas coisas, algo como um tônico, um elixir!

Depois, surge uma nota picante vinda de uma especiaria e uma baunuilha polvorosa, ambas de dulçor exótico e sensual.

No final, sinto notas balsâmicas, úmidas, profundas. Gente, que perfume!

Ambre Precieux é um perfume opulento na medida certa, extremamente sensual, caloroso e até mesmo carinhoso!

Me fez lembrar da apresentação de Dança Tribal de uma amiga… Gaby, esteja iluminada onde você estiver, Princesa das Mil e Uma Noites…

Baiser Volé Essence de Parfum, Cartier

Esse ‘Beijo Roubado” (tradução de Baiser Volé) foi enviado pela querida Rosângela Correa. Obrigada, viu?

O fato é que ele é uma delícia, mas também é linear, tem (quase) o mesmo cheiro do começo ao fim.

Logo quando passei senti uma nuvem empoada e adocicada, achei que seriam rosas e íris ladeadas por baunilha discreta, delicada e muito, muito feminina. Nada de gourmandices, é uma baunilha macia e cheia de ternura. Daquelas que acaricia a pele…

E aí fui descobrir que não tem nada de íris ou rosas, são lírios! Conheço muitos perfumes que tem como tema central o lírio-do-vale*, agora sobre o lírio mesmo (lembrando que existem mais de 100 espécies do gênero Lilium, da família Liliaceae), aqueles exuberantes que enfeitam vitrines de floriculturas e em alguns lugares são chamados de açucena, vejo (ou conheço) poucas criações… E aqui só consigo pensar em lírios brancos, tamanha a idéia de ‘pureza’ que tal perfume me trás.

Divagações a parte, Baiser Volé Essence é lindo! Carinhoso, confortável, macio. Um delicioso perfume polvoroso de alma cintilante! Dá vontade de abraçar.

Ah, sobre a evolução dele na pele: disse anteriormente que ele tem ‘quase’ o mesmo cheiro do começo ao fim, né? E verdade. Porém, em alguns momentos, a baunilha se faz menos evidente e surge um cheiro quase fetichista de creme, de pomada, de produto cosmético. Mas é breve.

Baiser Volé Essence foi criado em 2013 por Mathilde Laurent.

Notas olfativas: lírio e baunilha Bourbon.

no HD illustration available

*Convallaria majalis, conhecido pelos nomes populares de campainhas, círio-de-nossa-senhora, convalária, flor-de-maio, lírio-convale, mugué, muguet, muguete e muguete-do-vale)

Outras coisas que gosto além de perfumes…

Resolvi fazer um post falando de coisas aleatórias das quais gosto muito, afinal, a vida não é só feita de perfumes! E depois de pensar no que eu iria falar, percebi que muitas dessas coisas são perfumes em outros formatos. Em forma sólida, líquida ou em ramos. Não adianta, não consigo escapar do mundo dos aromas.

Plantas: tenho uma paixão louca por plantas carnívoras, ervas aromáticas, cactus, orquídeas. Já tive muito mais plantas do que hoje, mas estou feliz com as que tenho atualmente. Nada melhor do que acordar as 5 da manhã mentira, isso é horrível e ir ao Ceagesp (ou Ceasa) as terças ou sextas visitar a Feira de Flores, tem de tudo e é barato! Cheiros preferidos? Manjericão, lavanda, tomilho-limão, tanaceto (conhecida com o infeliz nome de catinga-de-mulata. Ou nem tão infeliz, se você sentir o perfume de suas folhas… quisera eu ter essa catinga!).

Pimentas: já participei ativamente de um fórum virtual de pimenteiros, aconteciam até encontros! Pimenta não é só ardor, é perfume, é sabor! Detalhe: aquelas pimentas que vendem em vasinhos no supermercado são decorativas tá? Muitas delas não são comestíveis, são catalogadas por números e obtidas através de muitos cruzamentos entre espécies, priorizando somente o aspecto da planta e dos frutos. E tem mais: gosto de pimenta forte, das que fazem lacrimejar os olhos! Uma vez eu e meu marido, em Campos do Jordão, entramos em uma loja de queijos, compotas e outras delícias. E tinha um molho de Bhut Jolokia, uma das pimentas mais fortes conhecidas. Claro, pedimos para experimentar, e todos os funcionários ficaram em volta da gente, para ver nossa reação ao comer o famigerado molho. Essas coisas me divertem…

Incensos: ah, quanto amor mora nesses palitinhos! São tão mágicos, de repente qualquer ambiente e situação se tornam aconchegantes e especiais! Tenho preferência pelos incensos da marca Padmini. Meu preferido era conhecido como ‘o incenso da Deusa Azul’ (se não me engano era de sândalo com canela), mas ele anda sumido. Se alguém ver em algum canto me avisa tá?

Chás: sempre digo que chás e sopas dão um abracinho quentinho por dentro. Chás podem te fazer viajar, bem como os perfumes! Imagine o clima, as cores e os costumes do local de onde se origina ou onde se é tradição consumir tal chá! Detalhe, porque eu sou chata: chá é a bebida feita com as folhas, flores, raízes de planta do chá (Camellia sinensis). Os que fazemos com erva-doce, hortelã e outras plantas, flores ou frutas são chamados de infusões. Gosto de muitos chás (tenho preferência por chá preto, aromatizado ou não), de muitas marcas – nacionais e importadas – entre eles: ‘Magic Nights’ da  Basilur, o ‘Earl Grey’ da St. Dalfour, o ‘Spice Chai’ da Stash e o ‘Cereja’ da Prenda. Aliás, essa marca sulista em muito me surpreendeu viu? Tem chás variadíssimos e deliciosos!

      

Cachaça: uma dose de uma boa cachaça é um verdadeiro elixir! Mas coisa boa, cachaça artesanal! Nada de pinga vendida em barrilzinho de plástico! Adoro com cambuci, com carqueja, com mel… Mas aqui eu paro, senão vão achar que sou uma bêbada.

E você, do que mais gosta além de perfumes?

Le Petite Fleur Noire, Paris Elysees

Mas um da coleção Le Petite Fleur da Paris Elysees! A embalagem segue o mesmo padrão dos demais perfumes da coleção (veja aqui e aqui), o laço que me faz pensar no lendário Coque d’Or.

Le Petite Fleur Noire lembra o Le Petite Robe Noire (EDP), da Guerlain. Até os nomes de parecem, vejam só!

Usei diversas vezes e recebi elogios, uma moça do trabalho perguntou qual perfume era. Falei, não sou de guardar segredos perfumados, acho que todos podem e devem (ou ao menos deveriam poder) desfrutar das delícias de um cheirinho gostoso e reconfortante exalando da pele. E o Le Petite Fleur Noire (vamos chamar de LPFN?) tem preço amigo heim? Ponto positivo!

LPFN inicia com intenso cheiro de maquiagem, de batom, de pó compacto! Ultra feminino, boudoir. Sinto aqui rosas, violetas, íris, amêndoas. E cerejas! Cerejas bem vermelhinhas, suculentas e mentirosas. Mentirosas? Calma, eu explico: o cheiro de cereja me parece bem sintético, mas combina! Orna perfeitamente com a onda polvorosa, com o cheiro de maquiagem, dá um descontraída, uma rejuvenescida, torna o perfume jovial e moderno. É um toque gourmand que não cai no lugar comum.

Depois de umas duas horas na pele ele se torna mais discreto, a cereja não é mais a estrela da festa. Surgem notas de chá (sensação morninha na pele, confortável), baunilha, patchouli.doce e picante (como em Miss Dior).

E não é que agora, no finalzinho, senti novamente a amêndoa, desta vez mais amarguinha, quase tostada? Surpresa boa…

Notas de saída: alcaçuz, hesperídeos, notas florais.
Notas de coração: amêndoa, rosa,violeta, cereja.
Notas de fundo: patchouli, musgo branco, baunilha, chá preto.

Art Collection #8, Jacomo

Antes de tudo, falo brevemente da ‘Art Collection’, lançada pelo casa Jacomo em 2010. Inclui três fragrâncias (# 02, # 08 e # 09) criadas em cooperação com os artistas Cecilia Carlstedt, Daniel Egneus e Stina Persson. Pelo que entendi os artistas foram convidados a ilustrar as embalagens dos perfumes a partir do que o cheiro de cada um deles despertasse em seus sentidos, a criatividade e a emoção deveriam nortear suas obras. Jacomo # 08 foi pintado por Daniel Egneus, inspirado pela Índia, seus contrastes e força. 

daniel egneushttp://danielegneus.com/#2374

Incrível né? A união entre duas formas de arte, dois sentidos: a visão e o olfato, um auxiliando na representação do outro.

Quanto ao perfume, ele é a tradução da imagem da Índia que tenho idealizada em minha cabeça. Seus cheiros, suas cores e sabores. Sei que posso estar equivocada, afinal, fantasiamos muito sobre locais distantes, exóticos e até mesmo místicos, como temos o hábito de considerar a Índia e outros lugares orientais.

Também, desde pequenos, na escola, aprendemos que a Índia era a terra da especiarias, das sedas, dos perfumes! Que culpa temos, então?

#8 começa com o cheiro doce e levemente adstringente do chá, Diversos chás, na realidade: temos aqui xícaras de chá preto, chá mate, masala chai. Logo as especiarias deste último sobressaem, ficam bem evidentes as notas de cardamomo, canela e gengibre.

Depois de um tempo as especiarias abrandam (mas não somem), e deixam surgir um breve cheiro leitoso, adocicado. Surgem frutas secas doces e picantes, na minha percepção tâmaras e damascos.

As notas finais são ambarinas, mas ainda repletas do cheiro agridoce e exótico dos ‘temperos’.

Mas sabe o que é curioso? Tem horas que essas especiarias não são quentes no #8 e sim refrescantes. O cardamomo volta e meia se mostra fresco, verde e leitoso! Junto com a chá então, se torna tônico e revigorante!

Mas no geral #8 é um ode ao Masala Chai. Se você, como eu, é fã do cheiro e do gosto da bebida, vá em frente!

http://www.darjeeling.cz/en/black-tea/masala-chai-indian-ayurvedic-mix-426

Perfumes Góticos – Mesa Redonda dos Blogs Perfumados

http://nacreousalchemy.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html

Ah, que tema agradável! Desta vez a Mesa Redonda dos Blogs Perfumados veste toalha negra, está enfeitada com pétalas de rosas e todos nós bebericamos vinho ao som de Joy Division (porque eu gosto!).

É difícil para mim, que não sou exatamente gótica – mas já andei muito com o pessoal, já frequentei muito o Madame Satã e outras casas do gênero – definir tal estilo. Vejam bem, não falo do estilo gótico artístico, que abrange a arquitetura, a literatura, música e demais manifestações. Falo do estilo de vida gótico (conhecido também como Dark). Isso mesmo, aquela galera que se veste de preto (inclusive em pleno sol), usa penteados diferentes e segundo a lenda, vai ao cemitério beber vinho tudo verdade. Mas isso pra ser bem simplista e facilitar a visualização, na verdade tal estilo de vida é bem mais complexo, cheio de leituras, sons, símbolos, ritualística.

Bom, definições do estilo de vida a parte, vamos falar de perfumes que me fazem ter pensamentos sombrios, obscuros,  reflexivos e românticos. Porque sim, no fundo todo gótico é um romântico.

Recomendo a leitura do post da Luciana, do Blog Floral e Amadeirado, antes de qualquer coisa, para deixar de seguir estereótipos e quebrar tabus.

Quais perfumes me trazem a mente a atmosfera gótica? São tantos… mas vamos enumerar alguns:

Lysval, da Girard, que cheira a rosas mortas. Me faz pensar em plenitude e finitude, e como lidar com isso… Me faz pensar  no doce e solitário Edward Mãos de Tesoura…

John Galliano EDP, de John Galliano. Perfume dramático, multifacetado, arquetípico. Carrega em si a fada, a bruxa, a viúva, a devoradora. Ficaria perfeito na misteriosa personagem de Eva Green na série Penny Dreadful, senhorita Vanessa Ives.

Patchouli Antique, Les Nereides, que transita lindamente entre o hippie-chic, o gótico, o cigano e o boudoir. Terreno, misterioso, representa a Deusa em todas nós, o ventre da terra, a Feiticeira. Penso na icônica Morgana, personagem do romance As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley.

Midnight Poison, Dior. A femme fatale, a mulher que seduz sem sequer se esforçar para tal, tamanho seu magnetismo. Ela é mística, obscura, proibida, inebriante. E glam. Elvira ‘Rainha das Trevas’, faça-se presente, deliciosa!

E para finalizar deixo uma música de uma banda que, como eu, não é exatamente gótica, mas tem lá seus momentos… The Cult, ‘Brother Wolf, Sister Moon’.

Visite as trevas dos demais blogs participantes:  O Templo dos Perfumes, Parfums et Poesie,  Perfume Bighouse, Perfume na Pele  Floral & Amadeirado


Romeu e Enigma, Charme Essência Perfumes

Hoje vamos falar de perfumes voltados ao público masculino! Já falei sobre a Charme Essência neste post e hoje vou falar um pouco do Romeu e do Enigma.

Logo ao borrifar o Enigma na pele, me veio a sensação do cheiro que fica no banheiro quando um homem asseado sai do banho: a unidade morna do vapor do chuveiro, o cheiro do sabonete, do desodorante que fora usado. Mas tem um detalhe: esse banheiro fica em uma casa de veraneio, tem uma coisa meio praiana no Enigma!

Segundo a marca, o perfume foi inspirado nas profundezas enigmáticas dos oceanos. Suas notas olfativas são listadas abaixo:

Notas de saída: alecrim, bergamota, prunella, calone.

Notas de coração: jasmim e ylang-ylang.

Notas de fundo: mirra e sândalo.

Conforme o perfume evolui na pele, fica bem marcante de mirra, picante, esfumaçada e exoticamente doce. Perfume marcante, mas sempre com ares limpos e frescos.

E o Romeu? Esse mesmo, eterno personagem de William Shakespeare, é nele que se inspira o perfume!

Aqui tive uma lembrança olfativa muito doida: lembrei de balas de goma azedinhas de cor roxa. Achei que o perfume tinha cheiro do gosto de tais balinhas, que por sua vez tinham um sabor exótico e que nunca soube bem identificar. Romeu começa com limão, sumo e casca! Tem alguma especiaria que achei ser anis estrelado e base amadeirada bem viril. Esse Romeu não teria morrido não! Raptava logo a suspirante Julieta e ai de quem ficasse na frente! Romeu cabra-macho!

Notas olfativas: limão siciliano, limão taiti, cardamomo, gerânio, sândalo, especiarias e cedro.

Os perfumes foram cedidos para resenha pela marca. Obrigado, Charme Essência!

Piu Bellodgia, Caron (2013)

Começo afirmando que infelizmente não conheço o Bellodgia de 1927, criado pelo mestre Ernest Daltroff. Mas pelo que li em outros blogs e sites especializados, o Piu Bellodgia carrega sim e com louvor, o DNA do primogênito.

‘Mais’ Bellodgia nasceu em 2013 criado por Richard Fraysse e pertence a coleção La Selection. Essa coleção foi lançada entre 2013 e 2014 e trouxe grandes perfumes da Caron com nova embalagem e ‘modernizados’, reinterpretados. Mas olha, pelo que percebi eles não perderam o ar vintage não…

Piu Bellodgia tem frasco elegante, com o nome do perfume em plaquinha de metal incrustada no vidro e pequenas bolinhas emborrachadas embaixo do frasco, algo que o fixa de forma bem segura em superfícies planas. Tampa discreta com o o logo da marca em dourado.

Começa com agradável e ultra-feminino cheiro de pomada/talco de flores. Cheiro de creme ultra-saturado dos óleos essenciais de flores como rosas, jasmins, lírios e cravos! Tem atmosfera vintage, empoada, boudoir, flertando com o rococó!

E demoram a aparecer outras notas viu? Fica um tempão a sensação de estar envolta e besuntada em uma espessa pasta feita com as flores.

Depois de quase 2 horas senti um picante e adocicado cheiro de cravo da índia, parecia que tinham aberto um potinho e jogado sobre e pele besuntada de tal pomada floral! Faz bonito, o cravo no Piu Bellodgia…

No final, aparecem notas amadeiradas e o almíscar tenro e ‘suado’. Aquela coisa de cheiro de roupa de cama pela manhã, quando acabamos de levantar depois de uma bela noite de sono. Misturou o cheiro do amaciante, do sabão em pó com o cheiro de sua pele e do seu suor, sabe? Cheiro mais acolhedor (e sensual) não há.

Perfume bem bonito, perfeito para os que gostam dos vintages, mas não querem se arriscar muito. Perfeito também para se iniciar nos mistérios da Caron.

Noras de saída: rosas, jasmim, lírio do vale, cravo (flor).

Notas de coração: cravo (especiaria), canela.

Notas de fundo: cedro, almíscar, sândalo.

Imagens: http://www.cafleurebon.com/cafleurebon-clove-in-perfumery-sweet-and-spicy-10-best-clove-fragrance-draw/