
Almíscar é o nome dado originalmente a um perfume obtido a partir de uma substância de forte odor, secretada por uma glândula do cervo-almiscarado e outros animais e também de algumas plantas de odor similar.
A variedade natural é a secreção do cervo-almiscarado, porém também pode ser extraído do boi-almiscarado, do rato-almiscarado (Ondatra zibethicus) da América do Norte, da ratazana-almiscarada da Índia e Europa, do pato-almiscarado (Biziura lobata) do sul da Austrália, do musaranho-almiscarado, do escaravelho-almiscarado (Calichroma moschata).
No reino vegetal se encontra no ‘almíscar comum’ (Mimulus inoschalus) e na ‘semente de almíscar ou ambrette’ do Hibiscus abelmoschus.

Um grama de almíscar dará um odor característico a milhões de metros cúbicos de ar. Foi generosamente usado pelos califas de Bagdá e altamente considerado entre os árabes. ‘Bolas’ de almíscar foram usadas junto a argamassa durante a construção de algumas mesquitas e sempre que o sol aquece suas paredes o odor emana do templo.
Historicamente, a palavra “almíscar” é derivada do Sânscrito muṣká, que significa “testículo” e refere-se ao segredo fragrante das glândulas apócrinas do veado almiscarado macho (Moschus moschiferus), um pequeno (10-13 kg) e tímido veado que se distingue pelas suas presas, longas orelhas e falta de chifres. Os veados machos usam o almíscar para marcar seu próprio território e para atrair as fêmeas.

O almíscar era o produto principal resultante da caça aos veados. As peles eram subprodutos, enquanto a carne não era utilizada devido ao seu forte cheiro de almíscar. Uma glândula de um animal morto (“umbigo” ou “casulo”) era cortada com um pedaço de pele, e rapidamente submetida a secagem ao sol ou sobre um forno quente. O cheiro durante o processo é de urina. Para serem usados em perfumaria, os casulos eram ensopados em água para remover os pelos e as peles, e então os grânulos de almíscar eram retirados. Depois os grânulos desfeitos em pó eram colocados em infusão em etanol para obter a tintura de almíscar, normalmente 3-5% do seu peso. Por exemplo, Jacques Guerlain e Ernest Beaux usavam tintura de almíscar em vez de puro etanol para a diluição do concentrado em suas fórmulas, como último passo da preparação do perfume.
A melhor qualidade era o almíscar Tonquin do Tibete e da China, seguido pelo almíscar do Assam e do Nepal, enquanto o almíscar Carbadine de algumas regiões da Rússia e dos Himalaias chineses era considerado inferior. Para obter 1 kg de grãos de almíscar, era preciso sacrificar entre 30 e 50 animais, e por isso as tinturas de almíscar eram ingredientes de perfumaria muito caros. No princípio do século XIX, o preço dos grãos de almíscar Tonquin era cerca do dobro do seu peso em ouro. Mas apesar do seu alto preço, as tinturas de almíscar eram ainda usadas em perfumaria até 1979, quando o veado almiscarado foi protegido da extinção pela Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES) e leis nacionais complementares. Hoje em dia, o almíscar natural, em quantidades legalmente permitidas pelo CITES assim como aquele que é vendido ilegalmente, continua sendo usado quase apenas na medicina tradicional do extremo oriente.” (Scent and Chemistry: The Molecular World of Perfumes de Gunther Ohloff, Wilhelm Pickenhagen, Philip Kraft)
Gradualmente o almíscar adquiriu fama internacional como afrodisíaco, quando as caravanas de almíscar indianas e chinesas chegaram aos perfumistas e curandeiros persas, bizantinos e árabes; seu sex appeal e misteriosa reputação cresceram junto com seu preço desde o século VI ao XIX. As atribuídas propriedades rejuvenescedoras e a capacidade de tratar eficazmente a infertilidade e a impotência altamente divulgadas.

Em sua forma pura, a secreção seca tem um cheiro animálico forte e repulsivo, com aromas de amônia que fazem lembrar urina e castóreo. Uma tintura fraca de almíscar permite uma maior exploração, na qual ela mostra a rica variedade de tonalidades adicionais que aparecem quando o cheiro animálico desaparece. Algo atrativo, vivo e viciante aparece depois do repulsivo cheiro de amônia. “Químico” é substituído por “quente” e “natural”; algo forte e pungente é substituído por doce, balsâmico e parecido com couro, e também parecido com castóreo, achocolatado, terroso, atalcado, seco e oleoso, amadeirado, molhado e suado.
Na perfumaria “o termo ‘almíscar’ é uma abstração das complexas impressões odoríferas das tinturas de almíscar natural, especialmente de sua secagem, depois de as partes mais voláteis terem evaporado. Refere-se à tonalidade quente, sensual, doce-atalcada da secagem.” (Scent and Chemistry: The Molecular World of Perfumes by Gunther Ohloff, Wilhelm Pickenhagen, Philip Kraft)
É o cheiro bom, quente, sensual, doce, atalcado, algo como o cheiro quente e úmido da cabeça de um bebê.

Na composição de um perfume o almíscar funciona como agente que equilibra e harmoniza as arestas. Os almíscares tornam a fórmula da fragrância mais limpa e arredondam o perfume; os almíscares dão volume, vida e calor à composição. Provavelmente não conseguiremos encontrar um perfume moderno que não tenha almíscares. Os testes de marketing demonstram que os compradores gostam de perfumes com um alto conteúdo de almíscares sintéticos (normalmente de 10 a 20%, por vezes até mais), por isso os acordes de almíscar são uma parte importante de qualquer fórmula de perfume.
Os almíscares sintéticos apareceram no século XIX por acidente. A descoberta foi de Albert Baur, que queria encontrar uma forma de conseguir um explosivo poderoso e seguro tal como o trinitrotolueno (TNT) em 1888, e conseguiu em vez disso uma substância com um forte cheiro de almíscar, e pode ser considerada um raro sucesso. O “Almíscar Baur” na forma de solução a 10% com um preço de USD $500 por kg (metade do preço do almíscar Tonkin natural) derrubou o mercado do almíscar.
A família dos Nitroalmíscares (Nitromusk) foi mais explorada por Albert Baur com o Ambrette de Almíscar, a Cetona de Almíscar e o Xylene de Almíscar nos anos 1894-1898, e pela Givaudan, que inventou o Almíscar Tibetene, Almíscar Alpha e Moskene. Eles foram a primeira geração de almíscares sintéticos, os almíscares principais na perfumaria até aos anos 1950.
Na verdade, os nitromusks foram a primeira referência do almíscar genérico, a abstração do almíscar com um cheiro quente, doce, atalcado e com um suave toque animal. A Cetona de Almíscar, que foi usada por exemplo em Chanel Nº5, era o cheiro de referência do almíscar, pois ele se parece muito o Almíscar Tonkin.

Os nitromusks foram banidos devido a sua neuro e fototoxicidade, uma alta reatividade que leva à mudança de cor dos perfumes, assim como a sua pobre biodegradabilidade e à acumulação nos organismos. No entanto, os consumidores gostavam realmente do cheiro doce e atalcado dos nitromusks, e algumas fragrâncias lendárias eram construídas com base nos nitromusks, por isso os cientistas tiveram de encontrar algum substituto para eles
Os Nitromusks eram baratos e cheiravam bem. Mas faltava-lhes estabilidade e eles eram reativos, o que tornou o seu uso para a perfumaria funcional (sabonetes, detergentes, xampús, cosméticos) muito limitado. Em 1951, Kurt Fuchs inventou uma substância com um cheiro almiscarado que em 1952 foi comercializada sob o nome de Phantolide. “Phantom” ou “fantasma” é o nome porque Fuchs não conhecia a estrutura desta descoberta; a substância cheirava bem e era estável num meio alcalino, portanto era ótima para detergentes. Quatro anos mais tarde, a estrutura do almíscar era decifrada por outros, e a recém-encontrada estrutura policíclica deu origem à terceira geração de almíscares policíclicos. Assim começou a corrida—pela melhor estabilidade, pelo odor mais agradável, pelo nível mínimo de percepção de odor!

Mencionemos alguns deles: Traseolide, Celestolide/Crysolide, Fixolide/Tonalide, Vulcanolide, Versalide e Galaxolide/Pearlide. Eles tendem a ter um forte cheiro almiscarado, doce, seco e atalcado com tons de âmbar. Eles são muito persistentes e eram baratos – por isso não é de admirar que no final do século XX os almíscares policíclicos fossem cerca de três quartos do total de odorantes de almíscar utilizados!
É preciso notar que entre os odorantes policíclicos existem alguns que têm um cheiro de almíscar tão forte quanto o dos outros denominadores. Por exemplo, a molécula policíclica Cashmeran tem um cheiro complexo com aspectos de âmbar amadeirado, couro e almíscar atalcado. Se chama “caxemira” ou “madeira de caxemira” das descrições dos perfumes.
Em 1975, os cientistas da BASF Werner Hoffman e Karl von Fraunberg anunciaram a descoberta de substâncias aromáticas com um quente e atalcado cheiro de almíscar com toques de fruta e morangos. Foi chamado de Cyclomusk, mas nunca entrou no mercado, porque não conseguia competir com o Galaxolide.
O desenvolvimento do grupo de almíscares alifáticos e alicíclicos (outro nome para linear) foi continuado com a invenção do Helvetolide (um cheiro almiscarado frutado com amoras) em 1990, e 10 anos mais tarde o Romandolide, um delicado almíscar fresco com um lado de bagas e cânfora. Serenolide, Sylkolide e Appelide constituem outros almíscares lineares – a quarta geração de almíscares, e estes podem ser mexidos para serem substantivos ou muito voláteis. O Sylkolide é uma nota de topo almiscarada. Existem umas poucas anosmias em relação aos almíscares lineares, por isso combiná-los com almíscares macrocíclicos evita as anosmias. A combinação de almíscares lineares e macrocíclicos é muito comum, especialmente no chamado “acorde de almíscar branco”, que nos passa sensação fresca e pura, limpeza. Sabonetes, detergentes e uma camisa branca engomada com ferro quente são associações opcionais.

Portanto, o almíscar sintético ideal ainda não existe. Alguns almíscares cheiram bem mas são perigosos e foram banidos; outros são demasiado estáveis e não-biodegradáveis (embora não se saiba se são tóxicos), e alguns ainda são muito caros de manufaturar.
Em Aromaterapia, não se utiliza Almíscar. Por ser a Aromaterapia uma forma terapêutica com consciência e respeito à natureza, ela precisa ser não só natural como também vegetal.
O blog ‘Aloucadosperfumes’ é contra o uso de substâncias extraídas de animais para uso cosmético. Nenhum perfume ou cosmético, por melhor que seja, justifica a morte, sofrimento ou confinamento de um bichinho.

E viva os almíscares sintéticos!
Texto reproduzido das seguintes fontes:
http://www.fragrantica.com.br/novidades/O-Alm%C3%ADscar-Sint%C3%A9tico-e-o-Natural-1099.html
http://aromais.blogspot.com.br/2010/01/almiscar-esclarecendo-sobre.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alm%C3%ADscar
http://www.operfumistico.com.br/2012/01/musk.html
http://mixdesabedorias.blogspot.com.br/2013/01/almiscar-animal-vegetal-e-artificial.html