Faz quase 4 anos que falei do Tabu que atualmente é encontrado nas farmácias e lojas de comércio popular por mais ou menos 10 mangos.
E desde então o polêmico perfume não saiu mais dos meus pensamentos. Eu queria de todo jeito conhecer a versão que assombrou a juventude de minha mãe. Consegui através do Ebay um Tabu versão Eau de Cologne da década de 60, LA-CRA-DO. Isso mesmo, embora a caixa estivesse a ponto de esfarelar, o frasco de 115ml veio com um lacre de metal logo abaixo da tampinha simplória de plástico preto. Parecia um lacre de ampola de remédio ou vacina. Olha o bonito aqui!
Ai, que emoção quando rompi tal selo! Tinha em mãos um Tabu ‘virgem’, todinho para mim!
Como eu disse no post anterior:

Tomei a liberdade de roubar o texto da Ego in Vitro sobre o Jean Carles:
“Nascido em 1892, o perfumista francês fundou a escola Roure (hoje parte da Givaudan) no início do século XX e até hoje é conhecido pelo seu método de treinamento de perfumistas. Frequentemente comparado a Beethoven, Jean Carles se tornou completamente anósmico próximo à sua morte (1966), sendo este fato apenas conhecido por seu filho. O método de treinamento hoje conhecido por Método Jean Carles consistia de organizar 60 ingredientes naturais e sintéticos com notas distintas em famílias de notas e caráteres olfativos. Os estudantes primeiro deveriam reconhecer os contrastes de nuances entre notas dentro de uma mesma família antes de prosseguir para a próxima. O Método Jean Carles é ainda hoje bastante utilizado para ensinar novos perfumistas a memorizar e compreender notas olfativas, entender o relacionamento entre elas e ampliar o vocabulário olfativo”.
Quem lê bem em inglês poderá conhecer o Método Jean Carles com maior profundidade aqui.
Não me lembro quem foi, mas alguém uma vez comentou que se o Tabu fosse reembalado e vendido por aí como criação de um perfumista ‘da moda’ ou de alguma casa de nicho, seria um sucesso e cada frasquinho seria disputado a tapa. Se você foi a pessoa que disse isso, manifeste-se aqui que coloco os créditos por tal genial colocação.
Se ganhasse um novo nome – um bem chamativo e estranho – a exemplo, “Civet Dellirium”, minha nossa! Custaria uma fortuna.

Mas vamos ao que interessa, o Tabu! Pela minha pesquisa o frasco que comprei é da década de 60, na concentração Eau de Cologne. Vou dizer, a colônia Tabu sessentinha ‘fixa’ e exala mil vezes mais do que qualquer Eau de Parfum da atualidade. Que potência!!! Usei só uma gotinha, uma umedecida de nada na ponta dos dedos e já fiquei toda cheirosa por horas! A noite, ao tomar banho, o cheiro ainda estava presente na pele! Treze horas na pele, baby!
O perfume é riquíssimo! Que profusão de notas, inebria o olfato! É especiado, quente, balsâmico e polvoroso, tudo ao mesmo tempo! É bem lascivo, vou avisando… remete a ambientes fechados e escuros, a atmosfera boudoir, quartos de hotéis meio decadentes com mobília antiquada.
Começa com notas picantes e brevemente cítricas, só mesmo pra dar uma arejada. É meio que ‘uma impressão’. Logo surgem notas florais carregadas e retrô. São rosas, ylang-ylang, jasmim, cravo em botão.
Mas a verdadeira personalidade do Tabu se encontra em suas notas de fundo, que de fundo não têm lá muita coisa. Explico… elas estão presentes o tempo todo. O ‘lençol’ de flores das notas médias não esconde em nenhum momento a sujidade e obscenidade que moram neste colchão!
E são tantas as notas de fundo que me foi impossível nomeá-las. Tem um inevitável aspecto animálico, sujo, suado. Tem madeiras, tem âmbar viscoso, tem patchouli mofado/picante, tem tons esfumaçados!
E Tabu também tem, bem no finalzinho, uma doçura elegante e confortável! Em muitos momentos é absolutamente feminino, em outros mostra uma virilidade bruta.
Ah, se o perfume vendido hoje por aí é fiel? Um tiquinho. É uma sombra do que já foi o Tabu, afinal custa 10 paus e certamente não possui mais ingredientes naturais em sua formulação. Mas mantém a ‘alma’ do negócio. Muitos ‘ingredientes’ do Tabu hoje são proibidos pela IFRA (Associação Internacional de Fragrâncias, fundada em 1973), e exemplo o musgo-de-carvalho.
Muitos perfumes da década de 80 beberam na fonte criado por Jean Carles? Ô! Opium taí e não me deixa mentir…
Do tipo ‘ame ou odeie’, Tabu desperta viradas de olhos saudosas e caretas repulsivas. Assim que tem que ser um perfume! O Angel resolveu fazer isso e é um sucesso absoluto de vendas. Tentar agradar a todos é uma estratégia muito em voga atualmente no ramo da perfumaria, mas eu acho isso uma chatisse. Eu uso o Tabu? Sim. Em dias frios, em dias que acordo querendo um perfume fora da curva…
Te agradeço Tabu, por ter ficado quietinho em seu frasco desde os anos 60 e por se revelar todinho para mim!
Notas de saída: laranja, especiarias, neróli, bergamota, coentro.
Notas de coração: cravo (especiaria), jasmim, ylang-ylang, rosas, narciso.
notas de fundo: sândalo, âmbar, patchouli, almíscar, civeta, bezoim, musgo-de-carvalho, vetiver, cedro.
