D&G Anthology, La Lune 18, Dolce & Gabanna

Nome comprido, mas vou chamar apenas de La Lune, tá bom? Sendo assim, agradeço a amiga querida Patrícia Carvalho que me presenteou com uma amostra dele lá no Encontro Perfumado da APP.

Quando eu soube de tal coleção da D&G com nomes de cartas de tarô e com top models ícones da ‘minha época’, fiquei um tanto quanto curiosa. Como algo tão intrincado, simbólico, arquetípico como os símbolos do tarô tinham sido traduzidos para frascos espartanos e com modelos despidos de indumentárias? Eles por si só, em pele, seriam a representação da carta… Pessoalmente achei boa escolha a Naomi Campbell para ser ‘A Imperatriz’ e da Claudia Schiffer como ‘A Lua’…

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Ao perfume então? Hoje pela manhã passei. Minha mãe e meu marido perguntaram qual perfume era e elogiaram. Engraçado é que eu mal estava sentindo ele exalar…

La Lune tem tonalidade soapy. Tem algo que lembra desodorante, limpeza. É translúcido e distante.

Começa com notas cítricas brandas e claras, sidra de maçã borbulhante e folhas verdes. Seu coração floral é simples e bonito: tuberosas, rosas, lírios. Aqui a tuberosa é levemente inebriante e sedutora, vem ‘em rédeas curtas’. O lírio vem cândido e virginal. A rosa – de verdade – não senti. As notas finais de La Lune são menos lapidadas, tem um acorde de couro bem interessante. Embora não esteja entre as notas oficiais, sinto algo de madeira verde, recém cortada. É aqui que a coisa fica interessante: ele se torna ambíguo, andrógino, revela uma força até então oculta e disfarçada…

E agora, escrevendo, me vem na cabeça que ele não poderia ter nome melhor: A Lua. A lua puxada pelo carro da deusa greco-romana Ártemis (ou Diana, se assim preferir – eu prefiro, claro…) e que em muitas representações enfeita sua fronte em forma de crescente. A Deusa que simboliza a castidade, é exímia caçadora e atlética, possui uma corte de ninfas e é protetora dos animais e das mulheres… Pesquisando, inclusive, descobri que no Tarô de Marselha, Ártemis corresponde à Lua…

Notas de saída: bergamota, maçã vermelha, notas verdes.

Notas de coração: tuberosa, lírio, rosa.

Notas de fundo: sândalo, almíscar, raiz de íris, couro.

Consequência: preciso ter esse perfume, tem meu nome escrito nele…

Imagem“Diana”, de Jules Joseph Lafebvre (possivelmente de 1879)

Links interessantes: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rtemis

http://www.girafamania.com.br/historia_arte/mitologia-grega-artemis-diana.html

Les Fleurs: Jasmin, Molinard

Molinard e seus lindos soliflores…
O jasmim. Suas propriedades olfativas são conhecidas há muitos séculos: para os chineses, simboliza a doçura feminina. Na arte medieval era associado à Virgem Maria. O hindus o chamam de “a luz da lua dos bosques”. Na Índia, Kama, o deus do amor, alvejava suas vítimas com setas acompanhadas de flores de jasmim.
 
Sobre o preço do jasmim natural na produção de perfumes, alguns absolutos de alta qualidade podem chegar ao valor de 20-30 mil euros para 1 kg. Em outra proporção, é necessário 1kg de flores de jasmim para obter 1,5g de óleo essencial. E um quilo de jasmim são quase 8.000 flores…
Olha, reza a lenda que tal perfume da Molinard tem um tantinho de jasmim natural, vindo dos cultivos próprios da casa…
Se tem ou não, a questão é que Les Fleurs: Jasmin é um deleite!
Inicia agressivo, com o toque adstringente e verde do jasmim. Assim que vc borrifa na pele dá a impressão que vai ser daqueles perfumes que fixam uma vida e incomodam, que tem cheiro de produto de limpeza. Nada disso.
Passada a explosão verde-adstringente-pungente inicial, ele se torna ceroso, adoçado, inebriante, sensual! Daqueles jasmins em sua forma mais pura, de cor leitosa, de pétala carnuda e com o toque animálico – vamos dizer orgânico – que é característico da flor.
Com o tempo, adquire aspectos levemente almiscarados limpos que conflitam e se encaixam com a ‘sujidade friamente calculada’ do jasmim. Torna-se cheiro de mulher. Simples assim, como já pensavam os chineses…
Segundo site especializado, possui tais notas olfativas:
Notas de saída: notas verdes e notas aquáticas.
Notas de coração: rosa, jasmim, flor-de-laranjeira.
Notas de fundo: almíscar.
Acho que a fixação devia ser melhor, em minha pele dura no máximo 3 horas. Mas vale a pena! Cada minuto dessas 3 parcas horas são puro prazer!
Pia Infantozi, para você…

Lembranças Perfumadas, diretamente do baú da Loucadosperfumes…

Outro dia, mexendo lá no fundo do armário, encontrei um perfume que me trouxe lembranças. Boas e saudosas. Encontrei um já descascado frasco de um perfume da Paris Elyseés, chamado Acapulco Love. Coisa do Chaves, não parece? Mas não. É o perfume que me fez lembrar de minha avó.

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Faz tempo, eu tinha algo entre 15 e 17 anos. Minha mãe trabalhava o dia todo e eu, quando não na escola e estava em casa ajudava nos afazeres e cuidava de minha avó, que já era idosa e volta e meia ficava adoentada e impossibilitada de sair da cama. Antes mesmo de eu nascer ela sofreu uma fratura no fêmur que em muito dificultou sua locomoção. Andava, mas com dificuldades e de bengala.

Minha avó era uma italiana da região de Trento – divisa da Itália com a Áustria – pequena, magra, que sofreu os horrores da 1° Guerra Mundial, perdeu a mãe ainda bebê, foi criada pelas tias, comia ração de pão e nozes e gritou quando reviu o pai, por ele estar fardado e portando um fuzil. Tinha medo dos soldados… Mas era animada! Pra frente, sem preconceitos, passeadeira! Quando jovem sua madrasta dizia que tinha que mudar de bairro pois não havia mais rapazes pra ela namorar! Ganhou o concurso de cabelo mais bonito da Dois Córregos e escrevia contos de amor… Mas era bem birrenta quando queria, viu…

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No Natal deste mesmo ano, eu tinha ganho de minha mãe um pequeno tesouro perfumado: 3 perfumes da Paris Elyseés, marca de contratipos que na época, era o máximo que eu podia ter. Um dia voltando da escola passei em uma perfumaria perto de casa, e lá eu vi outro perfume desta marca, o tal Acapulco Love. Caixa em tons de rosa, verde e detalhada em dourado. Frasco piramidal, vidro fosco, tampa prateada em forma de leque. Daqueles florais frutais docinhos, com algo de cheiro de bebê.

Me apaixonei… mas como dizer que eu queria mais um frasco de perfume? Poxa vida, já tinha ganho 3… Mas vó é vó. Ela logo percebeu que eu estava desejando algo. Perguntou, perguntou, e quando eu disse o que era, ela afirmou que meu avô já dizia que “mais valia um gosto de 10 mil réis no bolso”. Disse para eu pegar o valor do perfume na bolsa de mão azul marinho que ela usava e onde guardava o dinheiro de sua aposentadoria. Lembro até hoje do valor: R$ 13,90! Depois de fazer ela prometer mil vezes que não sairia da cama enquanto eu fosse na perfumaria, corri. Subi até lá ansiosa, feliz, ia ter o perfume!

Voltei pra casa carregando aquele tesouro que até hoje está entre meus frascos. Na verdade, está separadinho, num lugar só dele, e quando cismo dou umas borrifadinhas do tesourinho cor-de-rosa.

E tal lembranças são suas, minha querida vovó Gina, que já nos deixou faz um tempo…

I Heart Unicorns, A Beautiful Life

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Em minha busca por fragrâncias diferenciadas e desconhecidas, encontrei tal rótulo simpático e resolvi arriscar! Como resistir ao apelo de um unicórnio rosa, gente? Teve uma vez que fui comprar uma prateleira em uma loja de utilidades e variedades aqui perto e voltei abraçada a um unicórnio fofolete de pelúcia. Que cor? Rosa, claro! Olha ele aqui:
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Uma amiga muito querida tem a delicadeza de dizer que eu sou muito ‘lúdica’, pra não dizer que eu sou infantil e birrenta, acredito eu.
Pelo que entendi no site da marca, a intenção do perfume é representar o universo infantil/adolescente e seus símbolos. Tudo então é doce, fantasioso, inocente! (veja aqui: http://www.abeautifullife.com/catalog/item/7261260/7501788.htm)
O perfume se chama ‘I Heart Unicorns’, mas não poderia ser interpretado com o ‘I Love Unicorns’, com esse coraçãozinho como elo entre as palavras?
O perfume é efusivo, alegre e bem diferente mesmo! Logo no começo tem um aroma bem sintético e nostálgico de chiclete ping-pong (lembram?) de hortelã e de tutti-frutti, os dois misturados! Aquela coisa de cheiro de borracha, de goma do chiclete está lá tbém! Depois senti nele uma nota floral que achei ser gardênia, e passei a achar que tinha cheiro de chiclete de gardênia… E tinha mais algum cheiro escondido ali, alguma fruta azedinha que balanceava o inusitado acorde ‘gardênias/tutti-frutti/hortelã. Achei que era lima-da-pérsia…
Depois de umas 4 horas tais aspectos efusivos abrandam e aparece um aroma esfumaçado, incensado e delicado. Um cheiro de resina fresca e suave, nada invasivo que fica a flor-da-pele.
Engraçado nele é que apesar de ter lá sua doçura, ela não vem dos tradicionais ingredientes gorumands tão explorados em tais tipos de perfume (baunilha, caramelo e cia.). É um cheiro doce-fresco, fantasioso, neon. É doce-fluorescente!
Segundo o site da marca, as notas oficiais do perfume são essas: limão, hortelã, romã, terra fresca, incenso Nag Champa e olíbano.
Imaginárias, então, minhas gradênias e limas…
‘I Heart Unicorns’ é criativo, bem estruturado, ao mesmo tempo efusivo e delicado! Deve ser assim que cheira o mundo dos My Little Pony…

Lapidus Por Homme, Ted Lapidus

Eis uma bomba! Lapidus foi lançado em 1987 (ah, os anos 80 e seus perfumes explosivos…) e o nariz responsável por ele é Martin Gras.

Ele faz a linha ‘ame ou deixe-o’ (eu amo), é praticamente impossível de ser usado no calor, apenas uma gotinha te deixa perfumado o dia inteiro! Consigo imaginar uma paisagem europeia invernal, urbana, uma rua com lojas de artigos para o frio (couros, casacos, luvas), um pub e uma charutaria/confraria, onde os homens se reúnem para degustar os mais exóticos tabacos e beber cerveja escura, conhaque, whisky!

Lapidus Pour Homme abre com notas herbais ora amargas, ora doces, ora balsâmicas. Tem algo frutal, mas é fruta em calda, com açúcar mascavo ou mel. Logo ganha profusão de notas especiadas, florais intensas e incensadas. Tudo em Lapidus é exagerado, é profuso, é ‘aparecido’! Sua fixação é eterna e as notas de fundo são doces, melífluas, leitosas. Lá no finalzinho deixa escapar uma masculinidade segura e com toques de ‘bon-vivant’! Acho que esse perfume tem a cara do Sherlock Holmes vivido pelo Robert Downey Jr.: intenso, cínico, impulsivo. Não despreza os tradicionais prazeres, como um bom cachimbo e um brandy, mas adora explorar e descobrir novas possibilidades.

Aliás, algo interessante: o tabaco é uma nota bem presente no Lapidus, e me lembra de um tabaco aromático que meu marido compra: do tipo black cavendish…

Notas de saída: artemísia, abacaxi, manjericão, bergamota, limão, lavanda, zimbro.

Notas de coração: mel, alcarávia, jasmim, pinheiro, petitgrain, lírio-do-vale, rosa, pau-rosa (brazilian rosewood), incenso, raiz de íris.

Notas de fundo: sândalo, fava-tonka, âmbar, patchoili, almíscar, musgo-de-carvalho, cedro, tabaco.

Recomendo experimentá-lo antes de comprar, pois não agrada a todos olfatos. Perfeitamente compartilhável, eu o colocaria no mesmo ‘balaio’ que o Joop! Homme, de Joop! e o One Man Show, de Jacques Bogart.

Para os fortes!

Eva Peron, a eterna Evita

Eva Maria Ibarguren, filha ilegítima de Juana Ibarguren (de origem índia) com Juan Duarte ou Eva Duarte Perón, conhecida como Evita – nasceu em 7 de Maio de 1919, numa província remota da Argentina, chamada Los Toldos. Era filha ilegítima, e nunca se esqueceu de como foi humilhada e rejeitada pela sociedade onde vivia, pois as famílias vizinhas não a deixavam brincar com os seus respectivos filhos e nem falar com eles, sendo muitas vezes alvo de piadas grosseiras, preconceituosas e difamatórias. Quando seu pai morreu em um acidente automobilístico em 1926, fora proibida de comparecer ao velório e enterro pela família ‘legítima’.

Em 1934 e com apenas 15 anos de idade, já havia decidido que só se casaria ‘com um príncipe ou um presidente’, e convence Augustin Magaldi, uma cantor de tangos, a levá-la consigo para a capital, levando consigo apenas uma maleta de papelão. A partir de 1935, Eva afasta-se de Magaldi, e começa a trabalhar em clubes noturnos e no teatro. Sobre este assunto da sua vida, Eva declarou que fez o que tinha a fazer, mas nunca foi prostituta, pois aí ‘nunca teria nem futuro nem uma vida’.

Entre 1940 e 1943, a carreira de Eva Duarte (Eva adota definitivamente o sobrenome do seu pai) centra-se fundamentalmente nas emissões de rádio e em filmes, e é nas suas relações com amigos que começa a conhecer oficiais de alta patente do exército argentino, ligados ao poder político, e Eva tudo faz para estabelecer contatos que lhe deem a possibilidade de mais depressa chegar ao topo. Conhece o coronel Juan Peron em 1943, numa festa de angariação de fundos para as vítimas de um desastre natural que acontecera numa região muito pobre do sul argentino. Curiosamente foi Magaldi quem a convidou para essa festa, o que sugere que ambos não teriam cortado definitivamente as relações.

Eva, cuidava da sua imagem, pois arranjava o cabelo estilo Madamme Pompadour, muito elaborado (mas ainda da sua cor natural castanho-escuro), as unhas (de vermelho), vestia blusa com saia-casaco e vestidos elegantes, calçava saltos altos, e ensaiava bem o olhar, as mãos, o corpo.

Eva sabia muito bem que o coronel Juan Peron iria comparecer no evento, e ela tudo faria para o conhecer. Mas Peron vinha acompanhado com uma promissora jovem cantora e possivelmente sua futura esposa. Quando esta foi para o palco cantar tangos, Eva aproveitou a situação e ocupou o lugar da cantora, sentando-se a seu lado e apresentando-se como Eva Duarte. Alguns momentos depois, Juan Peron saía acompanhado com a futura Evita – Eva Peron, sua futura esposa.

Sobre sua biografia, paro por aqui, quem quiser maiores detalhes deixo link de onde tirei as informações anteriores (http://evaperon.no.sapo.pt/mm1.html).

Vimos que Eva era bela, decidida, talentosa e cativante. Conquistou o povo argentino e lá ficou conhecida como ‘Mãe dos Pobres’, pela suas constantes lutas pelos pobres e ‘descamisados’. Inaugurou a Fundação de Ajuda Social, ou como gostava de chamar, Assistência Social. Trabalhava 15 horas por dia, e recebe pessoas muito necessitadas às segundas, quartas e sextas-feiras, passando pouco depois a recebê-las todos os dias da semana. Construiu muitas escolas, creches, hospitais, lares, centros de saúde, ajuda a casas necessitadas, liceus e arranjava também equipamento hospitalar, equipamento escolar, treinava enfermeiras, acompanhantes de idosos e doentes, etc.

Nessa mesma época Evita desfilava roupa de alta costura (Dior, Lanvin, Jacques Fath e Marcel Rochas), jóias de ouro com pedras preciosas, casacos de peles. Seu cabelo agora era louro brilhante, enrolado em um elegante coque banana. Certa vez, quando questionada a respeito do grande luxo que a rodeava na Casa Rosada, Evita afirmou que as joias, as roupas, as peles, os chapéus, as malas, os acessórios “pertenciam ao meu adorado povo, tudo isto lhes pertence, para sempre liderado por Peron, e que por ele vivo, respiro, luto, trabalho”.

E Evita usava perfumes! Seu preferido foi o ‘Femme’, de Marcel Rochas, que em 1966 chegou a ter um frasco em sua homenagem!

Consta ainda que entre seus favoritos estavam ‘Scandal’, da Lanvin e ‘Ambre Canelle’, da Creed.

Evita teve câncer no útero. Mesmo debilitada e com dores fortes, continuou apoiando Juan Peron e lutando por seu povo. Porém, o corpo de Eva degradava-se dia a dia e no quarto da doente pairava um cheiro nauseabundo. Conta-se que Juan Peron, quando lá entrava – o que era muito raro – punha uma máscara que lhe tapava o nariz. Pouco tempo antes de morrer, Eva arrastou-se até ao quarto de Peron para o ver, (ele já tinha como amantes meninas adolescentes e estas vestiam as roupas de Eva) o que o deixou louco e furioso, pondo-se a gritar: “tirem-me esta coisa daqui”… E seus inimigos políticos ‘picharam’ no muro de sua residência um hediondo “viva o câncer”…

No dia 26 de Julho de 1952 e com apenas 33 anos de idade, esta mulher idolatrada por milhões de argentinos, exala a sua última frase – ‘Eva se va’- morrendo de seguida (quando morreu pesava menos de 30 quilos).

Mas vamos nos focar na Eva deslumbrante, loura, vestida pelos maiores nomes da alta costura, exalando perfumes, sorrindo!

E Eva, estavas enganada: você nunca se foi, nunca irá…

Aliás, aproveitem para ver a mostra sobre as jóias e roupas de Evita no Moumbi Shopping, informações aqui:

http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/exposicoes/4266-exposicao-exibe-replicas-das-joias-de-evita-peron

Acaba dia 26! 

Fontes: http://gayegos.com/category/sem-categoria/

http://evaperon.no.sapo.pt/mm1.html

Beige, Les Exclusifs de Chanel

Faz poucos dias que recebi essa preciosidade da querida Dri Sama, em mais um rolo perfumístico que fizemos.

Curiosa e atiçada pelo imponente nome ‘Les Exclusifs’, lá fui eu provar: encontrei provocação disfarçada sobre o manto da elegância! Beige é feminino, levemente gourmand, doce, amargo, é proximidade. Daqueles que não projeta tanto, mas que faz enterrar o nariz na pele para captar (e saborear) cada nuance. E não sei porque, mas em um dado momento comparei ele a um tecido macio, confortável, de sutil transparência… Em outra hora associei o aroma com a sensação de liberdade e conforto de chegarmos em casa, arrancarmos a roupa e o sapato que incomodaram o dia todo e desfrutar da nudez (total ou parcial) não de forma sexual, mas de forma a nos reconhecermos e de estar em companhia do que de fato nos pertence: nosso corpo.

Engraçado que agora é moda chamar a cor bege de ‘nude’ né? De repente fez todo sentido…

Senti em Beige uma nota amanteigada, amendoada, melíflua. Mel de florada de assa-peixe*, clarinho, ralo, suave ao paladar!

*A delicada flor da assa-peixe (Vernonia polysphaera).

Depois Beige mostra notas florais macias e aveludadas e apresenta um leve aroma de pinheiro, de cipreste ou eucalipto, não sei dizer qual. Mas é breve, verde-escuro, só deixa o aroma mais profundo.

Mas na realidade mesmo, como boa apreciadora de ‘bons drinks’, Beige me lembrou hidromel. Heil, Odin! Já sei o que usar quando chegar no Valhalla.

E o que eu faço com essa lista de desejos que só aumenta heim?

Foi criado em 2008 por Jacques Polge, perfumista exclusivo da Chanel.

Notas: mel, frésia, frangipani, pilreteiro (Crataegus monogyna)**

Detalhe: vi que no Fragrantica comparam o Beige ao Azzaro 9: tudo mentira, absolutamente diferentes.

** Espécie de espinheiro-branco nativo da Europa, do noroeste da África e da Ásia Ocidental.

Alien Sunessence EDT, Thierry Mugler

Sou fã confessa das criações da casa Thierry Mugler: pela ousadia, pela beleza, pela originalidade, por de fato surpreender o consumidor e elevar seus perfumes a verdadeiros objetos de desejo.

Fui apresentada ao Alien Sunessence pela querida Ju Toledo. Sabem do que ele me lembra? Quando chove, daquelas chuvas de verão de média intensidade, que molham a terra no meio da tarde. Daquelas que, ainda caindo os últimos pingos, permitem que o sol já se faça presente entre as últimas nuvenzinhas. Sol e chuva casamento de viúva.

Abre com jasmins molhados de chuva! Tem um toque cítrico-doce leve, vaporoso, para fazer o jasmim irradiar! Tem um leve toque terroso que lembra brevemente o patchouli. E olha, eu achei ali no meio uma rápida, discreta nota verde que me fez pensar em grão de café ainda verdes…

Depois aprofunda: revela a base ambarina e notas de madeira cremosa e leitosa. Madeira delicada, de cor clara. A baunilha faz breve participação, longe de ser culinária ou enjoativa. Só empresta dulçor e pitadas de sensualidade exótica.

Mas de fato, as grandes estrelas de Alien Sunessence são o jasmim-frutado e o âmbar-amadeirado. Foi criado em 2009, como proposta veranil do já conhecido Alien. Teve flankers em 2010 (Edition Saphir Soleil) e em 2011 (Or d’Ambre).

Notas olfativas: jasmim, limão amalfitano, notas verdes, âmbar, madeira de cashmere, baunilha.

Para mim é um perfume de ‘quase sol’: nascente, ou já poente. Nada de sol pleno.

É belo e ousado em sua suposta simplicidade.

Imagem dos jasmins retiradas daqui: http://amorescomflores.wordpress.com/

Voltando no tempo: perfume antigos…

Seguem aqui excelentes links para admirar/sonhar/conhecer perfumes de décadas passadas, algum há muito esquecidos…

http://www.quirkyfinds.com/vintage-fragrances/

http://christopherk67.wordpress.com/

Aqui, além dos perfumes temos uma bela coleção de frascos e garrafas!

http://www.zensoaps.com/perfumebottles.htm

Boa viagem!

Imagem retirada daqui: http://restosdecoleccao.blogspot.com.br/2011/04/perfumaria-da-moda.html

Sobre o Tabu, por Cris N.

Conheci a Cris no Facebook. Em nossas conversas descobrimos várias coisas em comum, entre elas, o apreço pelo menosprezado e mal falado Tabu, da Dana. Aí eu penso: mesmo que você deteste o aroma, não pode negar que o Tabu tenha sua página dourada entre os grandes clássicos da perfumaria mundial. Verdade, pesquisa aí sobre ele… Como disse em um comentário a Srta. Anjos, do fantástico Perfume na Pele: “O fato de ser um perfume “de farmácia” ajudou a popularizar a fragrância e popularização excessiva leva à decadência, no mundo dos perfumes… Aposto como se fosse um L’Exclusif, cheirar à bisca seria chique!“. Mas não se esqueçam que até o Chanel N° 5 já esteve nas prateleiras das drogarias do bairro viu?

Outra coisa: até parece que aqui todo mundo nasceu usando Serge Lutens, que nunca usou um produtinho baratinho que é marco na história da perfumaria e cosmética (digo, na brasileira, ou na história pessoal de cada um de nós): Leite de Rosas, Cashmere Bouquet, colônias Dote ou Gellu’s, Neutrox, Yamasterol (uso até hoje, deixa meu cabelo ótimo), Seiva de Alfazema, shampoo Colorama… a lista é enorme!

Bom, divagações a parte, deixo vocês com a inspirada resenha da Cris Nobre sobre o Tabu! Cris, obrigada pela contribuição ao blog, viu?

………..

Sobre Tabu, de Dana.

Caso em que preço não afeta qualidade.Há nele clara imponência e langor.Mesmo com a reformulação deixando sua civeta agora sintética, perdendo um tanto da força, não deixa de ser um perfume de imodestas pretensões, ainda com sillage fantástica, carregado de tenaz erotismo e mistério.É filhos dos “les annés folles” e acho que, entre seus múltiplos retratos, perpassando décadas de sucesso, citaria mulheres como Josephine Baker, Lupe Velez e por fim Ava Gardner. Definia-se como “proibitivo”. Convidativa forma de torná-lo ainda mais atrativo num mundo que ensaiava uma contraposição aos ideias pudicos. Jean Carles, o criador, impõe uma sensualidade animálica, terrena. Há nele influências árabes, incensos, dolências sensuais dos belos olhos mouros das hispânicas.Tais ares fesceninos seriam novas virtudes. Daí o nome, Tabu. À época criações assim, deliciosamente vexatórias, extravasando de forma exótica certas luxúrias , caiam nas ruas mais corriqueiras, nas caminhadas mais diárias.O calor balsâmico, resinoso que se perpetua em toda sua evolução,a explosão inicial de flor de laranjeira, jasmim, limão e rosa, o fundo musgoso e animalesco de segunda pele e por fim a baunilha de ternura , agora trazidos sem dó ao cotidiano.

É uma obra quase mística, de incríveis repercussões. Um ato contra o pejo, de rara formosura. Começa tão incandescente, ardido como sua cor fulva, ambarada, quase vaporoso, animálico como um hálito, para depois se quebrantar em acordes tão abaunilhados e melífluos.

É enfim, o perfume de femme fatale, sem mesuras. Capitoso e filho de seu tempo. Não consigo aspirá-lo sem amar sua aura dramática. E é difícil usá-lo, juro, e não ser indagada. Há algo nele irresistivelmente curioso.

Muitos são seus filhos: Desde Obsession a Youth Dew. Outros exemplos são Intimate de Revlon, Passion de Elizabeth Taylor, Bal a Versailles e Monsieur Carven.

Espero que ele encontre no novo mundo almas que sobejem vontade de compreende-lo. Um mundo, enfim, em que possa ser novamente compreendido.