Sobre o Tabu, por Cris N.

Conheci a Cris no Facebook. Em nossas conversas descobrimos várias coisas em comum, entre elas, o apreço pelo menosprezado e mal falado Tabu, da Dana. Aí eu penso: mesmo que você deteste o aroma, não pode negar que o Tabu tenha sua página dourada entre os grandes clássicos da perfumaria mundial. Verdade, pesquisa aí sobre ele… Como disse em um comentário a Srta. Anjos, do fantástico Perfume na Pele: “O fato de ser um perfume “de farmácia” ajudou a popularizar a fragrância e popularização excessiva leva à decadência, no mundo dos perfumes… Aposto como se fosse um L’Exclusif, cheirar à bisca seria chique!“. Mas não se esqueçam que até o Chanel N° 5 já esteve nas prateleiras das drogarias do bairro viu?

Outra coisa: até parece que aqui todo mundo nasceu usando Serge Lutens, que nunca usou um produtinho baratinho que é marco na história da perfumaria e cosmética (digo, na brasileira, ou na história pessoal de cada um de nós): Leite de Rosas, Cashmere Bouquet, colônias Dote ou Gellu’s, Neutrox, Yamasterol (uso até hoje, deixa meu cabelo ótimo), Seiva de Alfazema, shampoo Colorama… a lista é enorme!

Bom, divagações a parte, deixo vocês com a inspirada resenha da Cris Nobre sobre o Tabu! Cris, obrigada pela contribuição ao blog, viu?

………..

Sobre Tabu, de Dana.

Caso em que preço não afeta qualidade.Há nele clara imponência e langor.Mesmo com a reformulação deixando sua civeta agora sintética, perdendo um tanto da força, não deixa de ser um perfume de imodestas pretensões, ainda com sillage fantástica, carregado de tenaz erotismo e mistério.É filhos dos “les annés folles” e acho que, entre seus múltiplos retratos, perpassando décadas de sucesso, citaria mulheres como Josephine Baker, Lupe Velez e por fim Ava Gardner. Definia-se como “proibitivo”. Convidativa forma de torná-lo ainda mais atrativo num mundo que ensaiava uma contraposição aos ideias pudicos. Jean Carles, o criador, impõe uma sensualidade animálica, terrena. Há nele influências árabes, incensos, dolências sensuais dos belos olhos mouros das hispânicas.Tais ares fesceninos seriam novas virtudes. Daí o nome, Tabu. À época criações assim, deliciosamente vexatórias, extravasando de forma exótica certas luxúrias , caiam nas ruas mais corriqueiras, nas caminhadas mais diárias.O calor balsâmico, resinoso que se perpetua em toda sua evolução,a explosão inicial de flor de laranjeira, jasmim, limão e rosa, o fundo musgoso e animalesco de segunda pele e por fim a baunilha de ternura , agora trazidos sem dó ao cotidiano.

É uma obra quase mística, de incríveis repercussões. Um ato contra o pejo, de rara formosura. Começa tão incandescente, ardido como sua cor fulva, ambarada, quase vaporoso, animálico como um hálito, para depois se quebrantar em acordes tão abaunilhados e melífluos.

É enfim, o perfume de femme fatale, sem mesuras. Capitoso e filho de seu tempo. Não consigo aspirá-lo sem amar sua aura dramática. E é difícil usá-lo, juro, e não ser indagada. Há algo nele irresistivelmente curioso.

Muitos são seus filhos: Desde Obsession a Youth Dew. Outros exemplos são Intimate de Revlon, Passion de Elizabeth Taylor, Bal a Versailles e Monsieur Carven.

Espero que ele encontre no novo mundo almas que sobejem vontade de compreende-lo. Um mundo, enfim, em que possa ser novamente compreendido.

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4 comentários sobre “Sobre o Tabu, por Cris N.

  1. Excelente! Adorei, concordo plenamente.
    Adoro vários produtos baratinhos. As pessoas precisam dissociar o preço da qualidade. Preço não é via de regra qualidade. Vide os lançamentos atuais das grandes casas de perfumes: perfumes genéricos, sem criatividade, fixaçãopífia… por aí vai…

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