Não consigo me conformar com a ideia do Nu ter sido descontinuado… Conheci recentemente graças ao querido amigo Dino Napoleão, que gentilmente mandou, com muita gentileza e generosidade um frasco de tal perfume para que eu conhecesse. Ele disse que a fração que restava no frasco estava com traços de oxidação, e sim, tem algo em vias de oxidar, mas que não consegue apagar a beleza de tal fragrância. Vamos dizer que ao borrifar na pele, sinto por alguns minutos algo ‘estranho’ e alcoólico, mas logo essa nuvem dissipa e Nu mostra toda sua potência.
Nu está de fato, despido. É um dos perfumes mais sexualizado, apelativo, carnal e quase promíscuo que já senti.
Suas notas são quentes, profundas, ao mesmo tempo viris e de uma feminilidade felina. É do tipo de projeta muito bem, mas o desejo que suscita mesmo é de ficar próximo, de grudar no cangote e absorver tal aroma… Até mais, dá vontade de introjetar o cheiro e fazê-lo pertencer a nós. Como se fossemos nós a fonte de tal odor…
Foi lançado em 2001 e o nariz responsável por tal obra é Jacques Cavallier.
Notas de saída: bergamota, cardamomo.
Notas de coração: orquídea, jasmim, pimenta preta, incenso.
Notas de fundo: sândalo, almíscar, vetiver.
Nu abre com especiarias, mais do que só o cardamomo. Imagino que seja o aroma dos carregadores de caixas e mais caixas das mais diversas especiarias dos mercados persas que idealizamos lendo histórias antigas… tem algo de pele e de suor, tem o doce/picante dos temperos…
Logo as notas felinas do incenso e das orquídeas surgem. Vêm polvilhadas de pimenta e algo resinoso e licoroso, mas não chega a ser doce. É denso, escuro, sexual, melífluo. Lembra-me flores noturnas, que desabrocham na calada da noite, exalam seu aroma hipnótico e deixam seu néctar a disposição de animais noturnos e estranhos…
As notas de fundo são cálidas, picantes e sensuais. Madeira, raiz, animal. Perduram na pele de modo provocante e macio.
É um perfume tão bem construído que inspira contrastes: masculino e feminino, rico e decadente, ato ritualístico e ato carnal.
Algo nele me trouxa á memória o Kingdom de Alexander McQueen, outro descontinuado e de difícil acesso. Não posso dizer o que é, pois senti Kingdom apenas uma vez na amostra da querida Adriana Meire.
A embalagem é outra dualidade: de linhas geométricas, é clean. Por outro lado, o encaixe da embalagem no frasco, do frasco na embalagem é simbólico. O próprio frasco se abre de forma inusitada, se desnuda e se veste, e não permite que vejamos o que está em seu interior. Como um jogo de sedução, onde tendemos a nos perder cada minuto mais…
Mais uma vez te agradeço Dino Napoleão, pelo presente e pela amizade…