A História do Banho – Parte II

3 – Idade Média –  A Proibição do Banho

A condenação do inferno, tão comum na Idade Média…

Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados rituais de limpeza da Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira. A maneira de ver o banho mudou. As idéias religiosas foram levadas ao exagero e as saunas passaram a ser consideradas locais de pecado, porque as pessoas se viam nuas umas às outras  e tudo poderia acontecer. Era um convite às tentações da carne…

Ui, podia acontecer…

Não é exagero afirmar que a Idade Média foi o período em que a cristandade varreu da Europa as termas e demais atividades em que as pessoas se expusessem demais. Com tantos pudores, o prazer de tomar banho de corpo inteiro passou a ser visto como um ato de luxúria. Lavar as mãos e o rosto bastava, às vezes nem isso. Quando muito, era aceitável tomar um só banho por ano.

Os banhos foram totalmente proibidos, aumentando as doenças, em especial a peste. Dizia-se que a água “amolecia” a alma. Dizia-se ainda, que o fato de a água quente dilatar os poros da pele facilitava a entrada de doenças no corpo. Desta forma, nesta época, a higiene basicamente resumia-se em vestir uma roupa limpa e usá-la até ficar suja, pois acreditava-se que a roupa funcionava como uma espécie de “esponja”, absorvendo a sujeira. Sendo que muitas vezes a roupa sequer era lavada, apenas sacudida.

Os banhos eram escassos, quase inexistentes. Em famílias pobres, quando eles aconteciam, a água servia para banhar a família inteira em uma tina. Primeiro os homens, depois os filhos e por último as mulheres.

A Idade Média foi muito apropriadamente chamada de Idade das Trevas, protagonizando o total sepultamento dos hábitos de higiene. A Igreja, poder político e cultural absoluto, abominava os banhos, tratando-os como “Orgias Pecaminosas”.

Iniciou-se um período de imundície com conseqüências desastrosas para a Europa. Segundo os sanitaristas, as constantes epidemias que assolaram o Velho Mundo durante a Idade Média foram provenientes da total ausência de higiene por parte da população. As necessidades fisiológicas eram “despejadas” pelas janelas!

Esta falta de asseio pessoal, aliada às condições de vida insalubres, contribuíram sobremaneira para as grandes epidemias da Idade Média e, em especial, para a Peste Negra do século XIV.

Com os grandes surtos epidêmicos instala-se a convicção de que a água, por efeito da pressão e sobretudo do calor, abria os poros e tornava o corpo receptivo à entrada de todos os males. A água seria o veículo transmissor das doenças… e devia ser mesmo, com tantos dejetos despejados em rios e córregos.

Desde o século XV, os médicos condenavam a utilização dos balneários públicos e das estufas. Defendiam a teoria que, “depois do banho, a carne e o hábito do corpo amolecem e os poros abrem-se, e assim, o vapor empestado pode entrar prontamente no corpo e provocar a morte súbita”.

A ideologia cristã instaurou preconceitos e impôs uma nova moral e conseqüentes novos costumes. A Igreja temia pela sujidade das almas, pois os hábitos promíscuos eram uma porta aberta para o pecado. Havia assim, que se evitar os banhos públicos, locais “propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes”.

Mas há controvérsias, recomendo a leitura do artigo: http://www.ohistoriante.com.br/higiene-medievo.htm

4- Renascimento – Dos Maus Odores ao Banho de Civilização

No século XIII, frades dominicanos iniciaram as atividades farmacêuticas relativas à produção de essências, pomadas, bálsamos e outras preparações medicinais. Muitas dessas fórmulas, produzidas até os dias de hoje, foram estudadas durante a corte de Catarina de Médici, nobre florentina que se mudou para a França em 1533, para se casar com o Rei Henrique II.

Os perfumes de Catarina de Médici eram feitos em Grasse, uma pequena cidade ao sul da França, localizada aos pés dos Alpes mediterrâneos. Grasse era então um centro da indústria de couro e perfumação do mesmo, especialmente o das delicadas luvas das senhoras.

Aos poucos, a era das águas perfumadas, as famosas águas de colônia, foram cedendo espaço para a composições à base de almíscar. A preocupação com a higiene e os cuidados com o corpo permanecia. Também se considerava importante o cultivo de jardins, capazes de repelir os odores pestilentos comuns na época.

Diz-se que Luis XIV, o “Rei Sol”, era muito sensível a odores, e tinha um perfume para cada dia da semana. Em sua corte, rosas e flores de laranjeira eram usadas para perfumar luvas, e os sabonetes de óleo de oliva faziam parte da higiene diária. As fragrâncias apreciadas por Luís XIV eram produzidas no sul da França.

No Renascimento, a idéia de manter o corpo limpo foi abandonada e os “banhos de água” foram substituídos por “banhos com fortes perfumes e essências”, sendo Catarina de Médici a grande responsável pela difusão do perfume na França.

A fomentação da expansão marítima conduz os europeus ao descobrimento de novas terras, denominadas de ‘Novo Mundo’ e a realidade da Europa (o ‘Velho Mundo’) mostrava-se paradoxal aos costumes demonstrados pelos habitantes dos territórios localizados na atual América do Sul.

A chegada dos brancos impressionou aos índios, devido à aparência suja e grotesca dos europeus, chamados de “mal cheirosos e porcos”.

Observando os hábitos dos indígenas, nativos das terras recém-descobertas, os europeus aprenderam diversos conhecimentos sobre limpeza e higiene, pois era comum e que os nativos se banhassem em rios, lagos, lagoas e cachoeiras. De modo que os indígenas em muito contribuíram para o progresso nos costumes dos europeus, promovendo um verdadeiro banho de civilização.

5- Corte de França – Banho de Cheiro Disfarçando a Sujeira

A fundação da primeira boutique de perfumes em Paris impulsionou a produção e a comercialização de produtos aromáticos. A opulência, o esplendor, a extravagância e o refinamento surgiam nas famílias aristocratas e dominavam a corte européia.

A moda dos banhos estimulou a difusão dos perfumes por toda a Europa. A “Corte Perfumada”, fiel ao estilo Rococó, bem como toda a nobreza francesa, habitualmente se utilizavam de bálsamos e perfumes – nas roupas, nos corpos e nos cabelos – para disfarçar a sujeira e amenizar o mau cheiro.

“Por fora bela viola, por dentro, pão bolorento…”

Outras fontes: http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2011/03/historia-do-sabao-e-da-higiene-corporal.html

http://gehspace.com/arte26a30.htm

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12 comentários sobre “A História do Banho – Parte II

  1. Não sei se é fato, mas ouvi dizer que maio se tornou o mês das noivas porque na Idade Média o primeiro (ou único) banho do ano acontecia em maio. Também soube que as nobres sempre andavam com um cachorrinho no colo pra passar as pulgas e os carrapatos pra ele, coitado.

  2. Tensa a fedentina. Ainda bem que não existe pecado ao sul do Equador, todo mundo pode ficar pelado e cheiroso. =D

    Achei graça no lance do peitinho…

  3. Realmente, não vamos nos esquecer que os coitados tinham muita dificuldade em conseguir água a ma temperatura aceitável para tomar banho sem morrer durante o inverno. No auge da primavera, já dava pra tomar banho. Aliás, Diana, o texto que você mencionou no link é bem correto, embora eu esteja com preguiça de procurar outras fontes, já li várias poesias medievais e obras românticas que citam o hábito das casas de banho, exatamente como mencionados pelo artigo.

    Super bacana seu artigo em duas partes, amei!

    • Tá, entendo todas as dificuldades, mas há documentos históricos citando os povos escandinavos (os temidos vikings) banhavam-se semanalmente, e olha que lá era frio meeesmo. Pena que não citei tal povo no texto.
      Há, ainda terá a parte III!!!

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