
Fui formalmente apresentada ao Jicky pelo Dênis Pagani, do blog 1nariz. Me surpreendeu demais e agora ele não me sai da cabeça…
Vou contar o porque, mas antes vamos a história de tal perfume, marco na história da perfumaria. Jicky foi criado por Aimé Guerlain em 1889. Diz-se que o nome vem do apelido de seu tio, Jacques (que em 1925 criaria Shalimar). Jicky é amplamente anunciada como a primeira fragrância “moderna” pois esteve entre as primeiras a incorporar sintéticos odorantes (vanilina e cumarina – cujo odor remete ao feno) na sua composição. Nessa época as fragrâncias femininas eram feitas predominantemente com notas florais, tais como rosas, jasmins e violetas. Jicky inova com suas notas principais de lavanda e baunilha sobre algália (de origem animal). Embora comercializado pela Guerlain como uma fragrância feminina, fez e faz muito sucesso entre o público masculino.
Mais de 120 anos depois de sua criação, Jicky continua sendo vendido, tornando-se a mais antiga fragrância (exceto colônias) em produção. Ainda bem, nunca pare, Guerlain…
Aliás, uma curiosidade: no exterior, a lavanda é considerada uma nota tipicamente de formulações masculinas. Devido ao nosso clima tropical, é muito utilizada em perfumes femininos e logo caiu no gosto das brasileiras, devido ao seu frescor e por ser associada a limpeza. Note que ela é muito presente nos perfumes femininos nacionais.
Agora vamos a minha surpresa: sempre imaginei Jicky verde. Verde, como Ma Griffe da Carven ou Cristalle de Chanel (e eu não gosto de nenhum dos dois). E quase caí de costas de surpresa quando o senti na fita olfativa! Jicky, seu truqueiro!
Tem riqueza cítrica e herbal, senti nele lavanda, tomilho-limão, alecrim, manjerona, enfim, um bouquet de ervas aromáticas e uma leve brisa de casca de limão… logo o chamado “guerlinade” aparece em doses maciças, não nos deixando esquecer suas origens e a baunilha nos aquece e reconforta. Tem notas especiadas e amadeiradas. E ainda existe um quê animálico, “sujo”, humano. E é isso que fascina em Jicky! Ele não é limpo e asséptico como tantos perfumes que temos atualmente, ele é palpável, ele é corpóreo. Na listagem atual de suas notas só aparece o couro de origem animal, vamos assim dizer. Mas aposto que tem algo de civeta (sintética, ok) ali, bem escondidinha, bem disfarçada, que dá a ele esse toque animal. Sei lá, no fundo, bem lá no fundo, bem no residual, ele tem o cheiro da gaiola da minha calopsita, de passarinho. Não sei se vocês vão me entender mal, mas por favor, não entendam. É isso que faz toda a diferença nele: a falta de assepsia, a baunilha sensual, a mistura das ervas, a lavanda e demais ervas aromáticas esmagadas ali mesmo, nas mãos, para que seu sumo escorra e embriague.

Enfim Jicky, preciso de você para viver… Te quiero!
Hoje colocarei as notas olfativas por pura formalidade. Jicky não dá para ser “imaginado” através da leitura de suas notas. Ele é muito além disso.
Notas de saída: alecrim, mandarina, bergamota, limão.
Notas de coração: fava-tonka, raíz de íris (acho que ela contribui para o toque “poeirento” e atalcado da segunda fase do Jicky), manjericão, jasmim.
Notas de fundo: especiarias, couro, sândalo, âmbar, bezoim, baunilha, jacarandá (nosso nome para o “Brazilian Rosewood”).
Dênis, obrigada por proporcionar-me tal experiência! Foi um prazer enorme te conhecer!
Jicky eu conheci há muito tempo, antes de começar com esta coisa de blog, mas é bem verdade, o lindo é danado de bom. Eu curto este tipo de perfume. Como a maioria dos antigos Guerlain, tem este odor animálico bem definido e presente (foi o que me impressionou mais na época, não era o tipo de coisa que eu gostava antes.
Sobre o nome Jicky, dependendo de quem conta a história, existe uma versão diferente. Uma delas e que Jicky era o apelido da moça que Aimé gostava (Jacqueline era o nome). Chegaram a ficar noivos, mas aparentemente, não deu em nada, pois AIme nunca se casou.
Vamos fazer uma sessão espírita pra perguntar? 😉
Ótima resenha, bjks.
É, li sobre tal história, mas um site dizia que era uma moça, outro dizia que era um moço, então preferi omitir, uma vez que não consegui a tábua Ouija emprestada para perguntar pra Aimé o sexo de tal ser amado… Eu topo a mesa branca, quem sabe ele nos dá uma fórmula nova também!
Ah, os Guerlain antigos… que tesouros!!!!
Obrigada pelo elogio!
E agora, como faço com essa paixão repentina pelo Jicky e com a minha falta de verba?
Jicky, Vol de Nuit, Liu… aiai seus caros!!!