Ainda sobre o Egito…

Como o post sobre Cleópatra levantou algumas questões, vamos lá: um dos perfumes mais caros do mundo (custa cerca de 1.700$, e claro, vou comprar 5 amanhã… pronto, pronto, acordei!) é o “Les Larmes Sacrées de Thebes” ou “As Lágrimas Sagradas de Tebas”, lançado em 1990 e foi recriado de acordo com o conteúdo encontrado em um alabastron (recipiente próprio para armazenagem de perfumes, óleos e outros líquidos preciosos na antiguidade) ou em uma ânfora, não sei ao certo…

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Na imagem, alabastron grego.

Data do original:  480 A.C./Proveniência do original: atualmente no Museu Arqueológico Nacional de Atenas/Descrição: pescoço curto, acabamento liso, cilíndrico e em forma de pêra. Mostra duas mulheres, uma dançando, outra sentada. Pescoço preto com padrão geométrico estreito, repetido na base. Réplica em cerâmica do original. Altura 17,5, diâmetro 6,5 cm.  Fonte: http://www.usask.ca/antiquities/collection/transgreek/maidenalabastron.html

O frasco é de cristal Baccarat e seus “ingredientes” são:  ylang ylang, pimenta, jasmim, gerânios entre outros. Será que era esse aroma que Cleópatra elegia para seus grandes momentos?

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Cleópatra, a rainha perfumada

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Cleópatra: última rainha do Egito, símbolo do poderio feminino, de beleza questionável, dona do coração de dois imperadores romanos e de fim trágico! Fazia de seus rituais perfumados símbolos da sedução. Além de conquistar o coração do general romano Marco Antônio, conseguiu dele uma aliança com Roma. Pelo que vemos através das descobertas arqueológicas, ela era muito mais atraente do que propriamente bonita, ótima estrategista, e sabia acima de tudo, como perfumar-se. Untava-se com essências aromáticas dos pés à cabeça, criava em torno de si uma nuvem perfumada e recebia Marco Antônio em uma cama repleta de pétalas de rosas. Seus delírios perfumados eram incríveis: ela impregnava de odor de rosas até as velas de seu barco, e viajou ao encontro do amante inteiramente untada de óleos perfumados, como uma deusa em forma humana, deslizando sobre as águas. Deixava-se admirar recostada no trono de seu barco, que era envolto em nuvens de incenso. Em sua célebre visita a Roma, a rainha do Egito deixou um rastro de rosas por onde passou, e em sua última noite, antes de envenenar-se, banhou-se e perfumou-se da cabeça aos pés com as mais finas fragrâncias. Quando os soldados romanos a encontraram morta em seus aposentos, ainda puderam sentir seu perfume inebriante, feito sob encomenda para seu status real.

 

5th avenue, Elizabeth Arden

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5th avenue, da companhia Elizabeth Arden foi criado em 1996  por Ann Gottlieb. Leva com propriedade o nome de uma das avenidas mais badaladas de todo o mundo: é um perfume muito, muito elegante. Sua formulação não trás inovações ou surpresas, é um daqueles perfumes florais adultos, elegantes e que se adaptam a qualquer situação. Um verdadeiro curinga.

Imagino uma mulher bem sucedida, envergando um terninho de corte impecável, bolsa grifada e salto alto, indo para uma importante reunião de negócios em um edifício modernoso. Ela aproveita o tempo na fila do elevador para retocar o batom e mandar algumas mensagens via celular. Ela está usando 5th avenue. Esse perfume para mim, é a personificação da “madame” moderna, urbana, independente e conquistadora.

Notas de saída: lilás, muguet, magnólia, flores de tilo, bergamota

Notas de coração: rosa da Bulgária, violeta, jasmim absoluto, ylang ylang, nardo, noz moscada, pêssego

Notas de saída: âmbar, almíscar, sândalo, íris e baunilha

Embora as notas de fundo sugiram um perfume de tonalidade oriental, ele não pertence a tal família. O que sinto é um bouquet floral linear, sóbrio, elegante e ao mesmo tempo radiante. Um belo perfume, perfeito pra todas as ocasiões.

 

Shalimar, Guerlain

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Shalimar… desde 1925 enfeitiçando e seduzindo! Inspirado em um ode ao amor, o Taj Mahal, foi pioneiro na utilização da baunilha. Li em algum lugar que um outro grande perfumista da época disse que se tivessem dado a ele baunilha, ele faria um creme burleé, já Jacques Guerlain criou Shalimar. Existe a  lenda que o excesso de baunilha de Shalimar deu-se adevido a um descuido, que foi acidental. A questão é que ela não vem enjoativa, sintética. Vem com suavidade, em camadas, com pura sensualidade. Sinto bem as notas de fundo. As de saída são rápidas, e logo abstraídas pelo coração e fundo, intensos, quase sombrios e sedutores.
Entre as notas de sua formulação estão: limão, bergamota, jasmim, rosa de maio, opoponax, feijão tonka, baunilha, bálsamo do Peru e âmbar cinza.
Definitivamente uma das maiores criações da perfumaria, Shalimar não tem concorrentes. É único, como a mulher que sabe usá-lo. É especial, para ocasiões especiais. Tenho um frasco de 30ml e valorizo cada gota dele.
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O Taj Mahal:
Monumento funerário indiano erguido pelo Imperador Shah Jahan em homenagem a princesa Mumtaz Mahal, sua esposa e mãe de seus 13 filhos, e que faleceu no parto de seu 14º rebento aos 39 anos. Antes de Shah Jahan se tornar imperador, seu nome era príncipe Khurram. Segundo a lenda, aos 20 anos, o príncipe Khurram conheceu uma jovem chamada Arjumand Banu, no bazar onde sua família trabalhava. Hipnotizado por sua beleza, depois de se tornar imperador, ele a fez sua esposa e a chamou Mumtaz Mahal, que significa “jóia do palácio”. Sua morte devastou Shah Jahan e construiu o Taj Mahal em memória de sua esposa e seu eterno amor. Suas urnas funerárias ficam lado a lado dentro do monumento.

Pink Sugar, Aquolina

Quem morou em SP nos anos 90 deve se lembrar daquelas lojas de bonitas e tentadoras balas a granel, dispostas em tubos de acrílico que tinha nos shoppings (era a Sweet Factory?). Pink Sugar nos faz mergulhar de cabeça, e sem chances de retorno, em uma dessas lojas.  A marca italiana Aquolina lançou a fragrância absolutamente gourmand em 2004.
Ao mesmo tempo inocente e sensual, Pink Sugar dá vontade de morder! Algodão doce, pirulitos, jujubas, caramelos e balas toffee, todos juntos em um vidro cilíndrico rodeado de faixas cor-de-rosa.
É uma explosão de delícias inebriantes!
Notas de saída: folhas de figo, framboesa, bergamota
Notas de coração: cerejas, algodão doce, lírio do vale
Notas de fundo: baunilha, caramelo, musk
Pink Sugar é surpreendente e delicioso! Juvenil? Sim. Doce de melar os sentidos? Sim. Alguns podem considerar enjoativo, mas apesar de ser um perfume linear e sem grandes evoluções, logo suas notas mais fortes esmaecem na pele e fica o confortável e nostálgico cheiro de parque de diversões! Tão gostoso que dá vontade de comer!
Acho que o popular Egeo Dolce bebeu muito na fonte do Pink Sugar, mas não acertou na perfeição gustativa que a Aquolina conseguiu.

Um pouco de História…

Falar da história da perfumaria é falar da história do homem. Primitivos já esfregavam plantas e demais materiais na pele para fins de cura, ritos de passagem, e para se tornar mais atraentes perante seus companheiros. O perfume tem acompanhado o homem na hora de amar, de rezar, em seu luto e comemorações. Para chegarmos ao perfume na forma que conhecemos atualmente, temos que visitar diferentes épocas e civilizações. O nome “perfume” origina do latim, per fumun ou pro fumun, que significa “através da fumaça”. Significativo. Afinal, os homens sempre ofertaram aos seus deuses o que lhes era precioso e até hoje muitas religiões utilizam-se se incensos e outros matérias fragrantes em seus ritos. Volta e meia nos deparamos com notícias de descobertas arqueológicas de jarros, ânforas, potes e demais recipientes que eram utilizados para armazenar essências e ungüentos preciosos. No antigo Egito tais preciosidades acompanhavam os faraós em suas jornadas após a morte, eram depositados nas pirâmides com outros pertences e oferendas em alimentos. Na Bíblia, na passagem sobre o nascimento de Jesus, um dos reis-magos presenteia o recém nascido com incenso, tamanha era a preciosidade de tal material. Muitas vezes, a essência era tida como medicação e fazia parte da parafernália de cura dos povos antigos. Bom, a primeira “greve” documentada aconteceu quando o faraó Ramsés II passou a racionar ração e tabletes de ungüento perfumado que eram usados sobre a cabeça. O calor do sol derretia tal cubinho feito de gordura animal e essências perfumadas, e serviam como matéria refrescante e protegiam dos efeitos do sol.

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Acima, painel encontrado em um túmulo egípcio que ilustrava a extração da essência do lírio (observe a esquerda a mulher trazendo um cesto da flor para tal processo). Obra exposta no Museu do Louvre.

Pois é, perfume é história…

No Império Romano o perfume atinge maior importância. Pessoas de alto poderio abusavam das fragrâncias para mostrar sua prosperidade e tornar o ambiente agradável. Pétalas de flores eram espalhadas nos salões, paredes e cavalos (sim, cavalos) eram besuntados de pomadas perfumadas, e existem relatos de que alguns impregnavam as solas de suas sandálias para deixar um rastro perfumado por onde passavam…

Porém, o perfume como conhecemos começou a ser estruturado na Idade Média pelos alquimistas. Mas isso é história para outro momento…

Notas de saída, de coração….

Amigos, algumas leitoras ficaram com algumas dúvidas quanto as definição de “notas de saída”, “notas de coração” e “notas de fundo”. Então vamos esclarecer:

As notas de saída (ou notas de cabeça) formam a primeira impressão que temos do perfume. É a “abertura” da fragrância. São bem voláteis e duram de 5 a 30 minutos na pele. As notas de coração vêm em seguida, é o desabrochar da fragrância, e duram em média 4 a 6 horas na pele. Essas notas definirão a família de fragrâncias a qual pertence o perfume, tais como floral, cítrico, oriental, etc. Já as notas de fundo são a base de uma fragrância. Notas mais quentes e sensuais, são elas que “fecham” a obra e são as mais duradouras. Podem durar até 24h, dependendo do perfume e da concentração. Bons exemplos são âmbar, baunilha, musk e sândalo. Por isso devemos sempre esperar o perfume “evoluir” na pele antes de comprar, pois podemos gostar dele a princípio, mas depois que as notas de saída se vão é que teremos a certeza se a fragrância nos agrada ou não. É essa a “evolução” de um perfume, as alterações que ele apresenta ao longo do uso, revelando aos poucos suas notas.

O site da Lancôme apresenta excelente artigo sobre o assunto: http://www.lancome.com.br/_pt/_br/fragrance/animations/structure/index.aspx

Les Orientaux: Vanille Fruitée, Molinard

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Sou apaixonada pela Molinard!
Foi fundada em 1849 em Grasse, no sul da França, berço da indústria mundial de perfume. Em 1900, a empresa mudou-se para uma fábrica de perfumes antiga, onde a estrutura de destilaria foi projetada por Gustave Eiffel (sim, ele projetou a Torre Eiffel), e lá permance até os dias atuais. Muitos de seus perfumes já tiveram frascos de cristal Baccarat e foram desenhados por René Lalique. Bom, falar sobre a história da maison Molinard é falar da história da perfumaria francesa, mas vamos deixar para um outro momento…
A linha Les Orientaux é excepcional e Vanille Fruitee é uma delícia! A primeira sensação olfativa que tive é de algo medicinal e resinoso. Isso nos primeiros segundos após borrifar, logo adquire cremosidade, profundidade e calor. A baunilha dominante na formulação vem junto com frutas maduras, caramelo e chocolate.
Notas de saída: baunilha, caramelo e pêssegos.
Notas de coração: orquídea, ylang-ylang e jasmim (não sinto nadinha de jasmim)
Notas de fundo: osmantus, limão amalfi e uvas.
Vanille Fruitee pode ser enquadrado na categoria gourmand, embora não possa ser colocado na mesma prateleira dos tantos perfumes doces, frutados e abaunilhados que estão na moda, ele está acima disso.
A embalagem é simples e elegante, reprodução de frascos vintage encontrados no porão da maison.

Vanderbilt, Gloria Vanderbilt

 

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Criado em 1982 por Sophia Grojsman, Vanderbilt merece um lugar entre os cássicos da família oriental floral. A embalagem é simples (perto de algumas embalagens atuais), vidro redondo com um cisne muito bem trabalhado, tampa dourada com o nome da grife “impresso”. Vanderbilt é um perfume floral intenso, com um quê de atalcado, e levemente adocicado. Mas que fique claro: não o doce gourmand, o doce melífluo das flores! 
Nota-se bem as notas de flor de laranjeira, jasmim, rosas, tuberosas, amarrado por uma baunilha madura e nada comestível e sândalo profundo. Não sinto as notas de vetiver que estão presentes na formulação. A canela aparece sutil, uma visita breve. A fixação é boa, em torno de 6 horas.
Notas de saída: bergamota, flor de laranjeira e abacaxi
Notas de coração: jasmim, rosa, tuberosa e ylang-ylang
Notas de fundo: sãndalo, canela, baunilha, vetiver, opoponax e civeta
Quem gosta de perfumes cálidos e clássicos pode ir sem medo! E não tem cheiro de “perfume de avó” (ai, como odeio tal definição, o adequado seria “datado”). O perfume é vendido em sites internacionais a um valor bem baixo, o que faz de Vanderbilt um verdadeiro achado.